Na
noite em que a lua iluminava minha janela você passava lentamente lá do outro
lado da calçada. Assim como todos os outros dias. Você passava e meus olhos,
que já sabiam de cor seu trajeto, acompanhavam atentos. Eu permaneci aqui, cansada
de não cansar de arrumar e perfumar a casa do jeito que você gostava. A esperança
de você atravessar a rua, tocar a velha campainha pra eu correr e enfim te
abraçar continuava ali. Estática. Esperando...
Todos
os dias essa cena se repetia. Era só passar pela janela. Via você do outro
lado. Mesmo que você não estivesse lá. A janela era um choque de realidade, só
ela me fazia enxergar que você não estava mais aqui. Só ela me mostrava que
você não era mais meu. Ela me mostrava que você permanecia ausente. E eu ali,
querendo presença! Os contrários se uniam às lembranças boas do que vivemos e
me enlouqueciam.
Casa
pronta, perfumes, flores, música, sorvetes, bombons... e você?
Corria pro espelho, retocava a maquiagem, o
cabelo, o sorriso. Batom nos lábios... e você? Eu – espelho. Espelho – eu. Nem
sei o que ele refletia. Talvez alguém que não era mais eu, porque nem sei quem
sou depois de você. Que tola! Olhava pro espelho esperando que ele refletisse
você. Ousadia demais... Estávamos só nós: espelho e eu.
E
VOCÊ?
...que não refletia no espelho.
...que não me olhava de longe.
...que
não atravessava a rua.
...que
não vinha.
...não
tocava a campainha.
E
você que não era mais meu?
Corria
atônita ao escutar a campainha tocar. O tempo estava parado. Eu estava parada
diante da porta e ao olhar pelo olho mágico, não tinha nada, pois não havia
você. Voltava cabisbaixa pro espelho, este que só refletia saudade. Agora nem o
som dos seus passos eu podia escutar do outro lado da rua. Continuava
incansável. Procurando por você nos pequenos detalhes. Nas melhores lembranças.
Lá estava você. Só nas minhas lembranças, no meu passado. Pretérito perfeito
que eu queria conjugar para no futuro. Aquele futuro do felizes para sempre!
Joguei
as flores, os bombons, os discos, acabei com os perfumes, borrei a maquiagem.
Quebrei o espelho e fechei a janela. Tudo acabado. Nem janela, nem rua. Nem
espelho, nem você!
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Pra o texto, eu contei com a colaboração da Júlia Eduarda. Espero que vocês gostem ^^