sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sobre o tempo em que te esperei


Na noite em que a lua iluminava minha janela você passava lentamente lá do outro lado da calçada. Assim como todos os outros dias. Você passava e meus olhos, que já sabiam de cor seu trajeto, acompanhavam atentos. Eu permaneci aqui, cansada de não cansar de arrumar e perfumar a casa do jeito que você gostava. A esperança de você atravessar a rua, tocar a velha campainha pra eu correr e enfim te abraçar continuava ali. Estática. Esperando...
Todos os dias essa cena se repetia. Era só passar pela janela. Via você do outro lado. Mesmo que você não estivesse lá. A janela era um choque de realidade, só ela me fazia enxergar que você não estava mais aqui. Só ela me mostrava que você não era mais meu. Ela me mostrava que você permanecia ausente. E eu ali, querendo presença! Os contrários se uniam às lembranças boas do que vivemos e me enlouqueciam.
Casa pronta, perfumes, flores, música, sorvetes, bombons... e você?
Corria pro espelho, retocava a maquiagem, o cabelo, o sorriso. Batom nos lábios... e você? Eu – espelho. Espelho – eu. Nem sei o que ele refletia. Talvez alguém que não era mais eu, porque nem sei quem sou depois de você. Que tola! Olhava pro espelho esperando que ele refletisse você. Ousadia demais... Estávamos só nós: espelho e eu.
E VOCÊ?
...que não refletia no espelho.
...que não me olhava de longe.
...que não atravessava a rua.
...que não vinha.
...não tocava a campainha.
E você que não era mais meu?
Corria atônita ao escutar a campainha tocar. O tempo estava parado. Eu estava parada diante da porta e ao olhar pelo olho mágico, não tinha nada, pois não havia você. Voltava cabisbaixa pro espelho, este que só refletia saudade. Agora nem o som dos seus passos eu podia escutar do outro lado da rua. Continuava incansável. Procurando por você nos pequenos detalhes. Nas melhores lembranças. Lá estava você. Só nas minhas lembranças, no meu passado. Pretérito perfeito que eu queria conjugar para no futuro. Aquele futuro do felizes para sempre!
Joguei as flores, os bombons, os discos, acabei com os perfumes, borrei a maquiagem. Quebrei o espelho e fechei a janela. Tudo acabado. Nem janela, nem rua. Nem espelho, nem você!




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Pra o texto, eu contei com a colaboração da Júlia Eduarda. Espero que vocês gostem ^^