quarta-feira, 30 de março de 2011

Primavera em flor

Para Rhalyne Moura

Um véu bordado sob o céu indeciso
reflete no grave perfume das horas
as frontes magníficas de um jardim verde-jade.

O doce-açucena de um aroma flor-de-lis
exala das folhagens nuas
dos pequenos fetos de copo-de-leite
a carícia branca de seus risos perfumados.

Orquídeas, acácias, lótus, azáleas
assomam na superfície celeste
cores secas e furtadas
como um tecido de sol.

Lírios e anêmonas
ecoam azuis no mármore do céu
como sílabas em flor
como pássaros celestes.

Bem, esse texto é especialmente pra  mim e vocês podem encontrá-lo no blog da minha nega linda Karoline Serpa, ela escreve divinamente bem e vale muito a pena ir lá conferir! 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Um tal de amor

Gestos se expressam melhor do que as palavras
E na ausência destas, os olhos se comunicam
Os carinhos afloram, com os sussurros surgem os risinhos sem razão
Tocam o âmago que dilacera
A ternura contida se mostra, extravasa
São silêncios intensos que gritam no interior
Movidos por afeição
Esta que invade, que tira o ar e deixa tudo mais bonito
Colore o mundo e faz cantarolar ao vento
Faz de besta o ser humano inteiramente racional
Que esquece a razão, livra-se da prisão do mundo real
Da exigência de presença das palavras
E decide então viver de gestos, de borboletas no estômago
Escolhe viver de amor.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sobre a sua falta


Esse cheiro do teu perfume que me visita todos os dias, as cores dos teus olhares, o brilho do teu sorriso, o abraço confortante, as brincadeiras e a prontidão pra me escutar sempre que eu precisasse, fosse pra confidências ou para as maiores besteiras era a você que eu recorria e era você que eu sempre tinha. Eu te tinha, e agora? Como eu sobrevivo sem o teu amor? E essa dependência que não me abandona? Na verdade, eu já fiz de tudo pra te expulsar daqui de dentro de mim, mas tem sido difícil, ninguém sabe o quanto eu luto pra te matar aqui dentro e quando percebo que tá sendo em vão... Desmorono. A última coisa que eu fiz foi escrever bem grande no meu quarto: DESAPEGO! Pra todas as vezes que eu passar e vir, repetir com firmeza, três vezes pra ver se concretizar, quem sabe eu consigo. Já usei as maneiras mais simples e as mais complexas e foi em vão, você me invade e toma conta de mim sempre.
Sempre tive medo de soltar da tua mão e tentar me equilibrar com as próprias pernas, nunca soube andar sozinha. Faltava ar, faltava chão. Você não sai de mim, por mais que eu lute! É um veneno que está impregnado e mata aos poucos. Quando eu tô bem é com você que eu quero compartilhar, quando eu tô mal é o teu ombro que eu quero pra chorar, nele eu tenho segurança pra contar meus medos e minhas fantasias, e eu sei que não deveria ser assim, uma vez que só quem quer sou eu. Você não corresponde e isso me dói. O teu telefone ainda tá gravado na minha memória e involuntariamente eu me pego te ligando, quando percebo tô ali igual a um cachorrinho farejando o dono, indo ao teu encontro. É inevitável. Te aproveito e sacio a vontade que eu tenho de você, mato a saudade sem me preocupar com nada e é só depois de tudo que eu te olho e te percebo realmente. Nem aí pra mim. A saudade era tamanha que eu nem me dei conta de que você não tava me querendo, tava apenas me aceitando. Sabe amor-próprio? Eu não sei o que é isso faz muito tempo. Você sempre me magoa, pisa em cima, faz ferida sabendo que vai sangrar, me expulsa depois de me enganar e ainda assim, parece que eu prefiro me iludir.
Eu não sei dizer o que é, mas mais forte que eu, eu quero só você. Ainda olho no teu olho e sussurro um ainda te amo, quando você simplesmente ri e diz pra eu te esquecer. É fácil falar pra esquecer, dizer que o que não deu certo não dará nunca mais, mas na prática é tudo desigual. Eu te mato e te ressuscito toda vez que a saudade grita, mesmo olhando em outros olhos, tendo os maiores carinhos e um amor tão grande por mim, a tua falta é grande, me incomoda, me faz mal.
Agora eu tô na filosofia do tudo vai passar, resolvi soltar tua mão, vou me equilibrar e seguir sozinha, andar com as próprias pernas, usar as minhas forças, enfrentar a dor, jogar fora os presentes que enfeitam meu quarto, queimar as cartas que você me escreveu, riscar o teu número da mente e matar tuas lembranças. Vou procurar o tal do amor-próprio e escrever na minha testa ‘tô feliz’ pra toda vez que olhar no espelho lembrar que eu te matei do meu coração e que tô vivendo bem sem você. Enquanto não superar cem por cento eu sei que vai continuar doendo, mas eu quero conseguir. E querendo de verdade, com todas as forças que eu descobri que posso ter se eu quiser, eu posso, eu consigo não te pertencer. É missão diária que tem que ser cumprida por mim, excepcionalmente por minha causa.

terça-feira, 1 de março de 2011

O amor eterniza quem se ama

Ela é uma das tantas Marias que existem nesse mundo, mas não é apenas mais uma Maria, tem o dom de fazer pessoas felizes e existir já é motivo suficiente para tal. A vida lhe reservou dois casamentos e dezesseis filhos dos quais três não sobreviveram, os outros foram com sacrifícios e renúncias, bem criados. O semblante sempre sorridente esconde a vida dura enfrentada para chegar aos oitenta e oito anos tendo a cara de uma criança que acaba de ganhar o brinquedo tão almejado. Ser iluminado, alegria constante. Com um amor que não cabe em si, altruísta por excelência, abriu mão dos seus sonhos para lutar por seus filhos e fazer deles pessoas justas, seres humanos sensatos e mesmo que essa assunção se desse em prejuízo de suas metas ela arriscou sem medo, esqueceu de si e viveu por e para eles, alcançou sucesso pleno, o que, para ela foi consideravelmente satisfatório e está para contar a quem quiser ouvir o quanto Deus foi e tem sido bom com ela.
Na missão nada fácil de sobreviver nessa vida tão arriscada diria que ela tem se saído muito bem. Tem as maiores e melhores histórias pra contar e é capaz de fazer com que qualquer pessoa queira permanecer na sua companhia maravilhadamente contentados com o que ali se escuta enquanto ela fica deitada no sofá menor, recostado na parede logo abaixo da janela da sala. A mania de só gostar de coisas simples faz com que todo mundo tenha grande dificuldade para presenteá-la. Teimosia e perfeccionismo são traços marcantes da criança idosa que adora fazer arte sem precisar se esconder, não abre mão de cozinhar no fogão de lenha e ainda faz questão de lavar roupas na lavanderia da área de serviço, além de tudo ela faz o melhor doce de mamão com coco e a melhor cocada do mundo.
É carinho que não se explica, amor que não se mede e que se intensifica em cada olhar, é o silêncio de quem medita antes de articular, é menina, mulher, mãe, avó, bisavó, trisavó... é de aço e de flores, é um amor divino através do cuidado humano. É ela a maior prova que no sexo frágil há uma virilidade jamais vista. Deixa pra trás os maiores guerreiros da história com a sua vida de superação e torna-se uma guerreira realizada. Com ela eu aprendi que o maior conhecimento do mundo não está presente nos livros, nem nas enciclopédias inteiras, mas no amor de quem se ama, aprendi também que a morte jamais apaga o que alguém foi, que eternidade é além-tudo, ela me ensinou isso e continua a mostrar os caminhos e as verdades, a melhor herança que alguém pode deixar ela vem construindo há muito tempo e quando se for, não precisará de testamento porque tudo de melhor que ela tem já foi dado. Foi com ela que eu entendi que a força vem do coração e não dos músculos. Ela é para mim a imagem de Deus eternizada no mundo. O anjo que me guarda e ilumina.


Depois de contar a história dela, apresento-lhes Maria José Soares, ou simplesmente Dona Neném!
A mulher mais guerreira que eu já conheci, minha bisavó.