- Pisa no chão, menina! Ouviu de longe essa expressão. Sim, era com ela sequer percebeu, deu de ombros e continuou, afinal, não vive pra ser exemplo para Sr. Ninguém.
Andava como se não houvesse ninguém a sua volta, como se o mundo fosse parar para ela passar e, francamente, o que é que isso tem demais? Ela é linda, jovem, decidida, simpática, egoísta, sarcástica – sempre que precisa – [...] é um misto, se adapta as situações adversas que insistem em aparecer para complicar a sua vida e dribla tudo com um sorriso estampado no rosto, acredita que essa é a receita da felicidade: Um sorriso no rosto! As lágrimas rolam vez por outra, no entanto, você não as verá tão fácil, o coração se magoa quase sempre, com tantas coisas e pessoas, porém, sendo ela superior, passa por cima de tudo isso como se estivesse em plena passarela, olhos fixos e passos largos, segue em frente, a vida sempre continua...
As ruas tornaram-se estreitas para seus passos largos, caminhava freneticamente, toda pressa a fazia muitas vezes deixar de notar os detalhes dos lugares por onde passava. Sempre gostou de observar os caminhos, de ouvir as novidades que eram sucessivamente velhas, conseguia ver beleza em tudo, achava graça nos pingos d’água que caiam das árvores sobre ela todas as vezes que passava na praça, enquanto as cigarras cantavam afinadíssimas, um canto que a acompanhava pela cidade inteira, e ela seguia sempre ali pelas ruas, sozinha, fazendo companhia a si mesma e, cantarolando aquelas canções que nunca a abandonaram pensava nele, aquele sujeito que a fez feliz e depois não foi mais digno do seu amor, era ele que ela que jurava não mais amar, mas de quem não conseguia livre-se nunca, este também nunca a abandonou, por mais que quisesse estar só, ele estava nos seus pensamentos e nas lembranças, era como se em cada esquina ele estivesse a observando e por mais que mudasse de caminho, que tentasse se esquivar de tudo isso, continuava a vê-lo em outras esquinas, segurando uma plaquinha escrita: “estou contigo, te vejo e te acompanho, sempre!”. Seria verdade, ou mera impressão? Dava de ombros e seguia sua caminhada rotineira, tudo faz parte da sua história, as lembranças, as músicas, a praça, as cigarras, ele... não adiantava, nenhuma borracha no mundo era capaz de apagar as cicatrizes do tempo, precisava vê-las para sentir-se viva!
Parou, viu-se decidida, aquele cara não era tudo que ela precisava, podia muito bem viver sem ele, bastava a si mesma e, uma hora ou outra, ele sairia dos seus pensamentos, faria exatamente como ouvira um dia: “lápis nos olhos, gloss nos lábios e bola pra frente” tudo é passageiro e toda dor passa quando nós a esquecemos e damos prioridade a outras coisas. Os comentários que rolavam a faziam exercer mais do que sempre a sua “filosofia de vida”: “eu sou assim, metida ou não, não devo satisfações a Sr. Ninguém” não seria dessa vez que um “pisa no chão, menina!” a faria esquecer que ela adora voar, continuava assim, vivendo a vida e sendo feliz, problemas na gaveta, um sorriso no rosto e, tudo resolvido!
O meu céu está incompleto, há um vazio no peito que não se preenche, os remédios não fazem efeito, a ferida continua sangrando e parece nunca cicatrizar. Sinto falta de você aqui e enquanto procuro, grito te chamando. Esse grito ecoa pelas ruas vazias enquanto eu espero pela sua resposta, esta que não me aparece. Eu preciso das conversas, dos conselhos, dos sorrisos e gargalhadas sem motivo, permaneço esperando pelo abraço que me ajudava e acolhia depois de escutar atenciosamente os meus lamentos.Te procurei por todos os lugares, precisava preencher essa ausência, mas me explica como fazer isso, se você não mais está aqui? Acredito que o céu ficou mais bonito e mais feliz com a sua chegada, porém, daqui eu não posso dizer o mesmo, você me faz tanta falta... Se Deus permite que coisas como essas aconteçam é para que um dia possamos tirar lições de tais fatos, com você eu aprendi que a vida é linda, que as pessoas são diferentes mesmo sendo tão iguais e que a solução de todos os problemas está dentro de nós, você foi bondade e paciência em forma de gente. Sim, eu nunca vi no mundo alguém tão simples de coração como você, quem consegue ver beleza em meio a um mundo tão hediondo é quem tem esse encanto dentro de si. Ao olhar para o céu cinzento lembro-me do brilho dos teus olhos e esqueço por um momento do temporal que está por vir. Nas horas difíceis, quando penso em desistir, escuto baixinho: “vai lá, eu acredito em você e estarei aqui, torcendo!” e nas alegrias e realizações, me falta você aqui pra eu poder abraçar e dizer: “muito obrigada por acreditar em mim e por ter estado comigo sempre”. Com você eu sorri e chorei, acreditei em amizade verdadeira e compreendi o valor que há em um amigo. Agora, longe de você continuo tendo esperanças nas pessoas e dando a minha pequena parcela de contribuição para quem sabe um dia, tornar esse mundo melhor, pra quando um dia enfim eu encontrar com você, retribuir o sorriso tão sincero, agradecer pela dádiva de ter tido esse anjo presente sempre na minha vida, olhar profundamente em seus olhos e dizer que durante todo esse tempo que você me fez tanta falta eu permaneci amando você.
Idealizava uma vida perfeita, longe dos problemas reais, sempre sonhou sem limitar-se acreditando plenamente em um final feliz, do tipo “...e foram felizes para sempre!”. Vivia no seu conto de fadas e a sua história começa assim:
“Era uma vez, uma menina-princesa que vivia à espera do seu príncipe encantado, sonhava com ele dias a fio e, na sua mente o idealizava tentando trazê-lo para a realidade. Depois de muito tempo, com o coração cansado de esperar e olhos que de tanta fadiga não enxergavam mais nada, nem príncipe, nem sapo, cansou! Pois bem, decidiu que a partir de agora, não o procuraria, ele viria só, seria presente divino. Um belo dia estava a sua frente um ser, um príncipe, ao vê-lo, olhos nos olhos, o coração bateu mais forte e ela pensou: “É ele!”, havia acabado de encontrar o seu primeiro amor. Tornaram-se amigos e após a convivência, o sentimento tornou-se recíproco, era para ela algo tão surreal, tão singelo, tão eterno. A história continua com o namoro deles, eram constantes as promessas de amor eterno, sonhavam viver pelo menos noventa anos juntos. Sorrisos, mãos dadas, beijos e abraços, carinho que se percebia nos olhos dela a todo instante, vivia para ele como se ela não mais existisse, nada mais importava, apenas fazê-lo feliz, prometeu para si mesma que se a felicidade dele fosse garantida, para ela o mundo teria razão, estaria cumprindo bem o seu dever, estava o fazendo feliz e era para sempre. Juntos, compartilharam momentos lindos, porém, chegou o momento em que ela, só ela, sentia esse amor verdadeiro, e, mesmo sabendo disso, que ela vivia para ele e não existia reciprocidade, preferiu a ilusão, continuou pensando nele e o amando com tamanha intensidade, mas tanta que o coração não mais suportava, estava cansando, ninguém pode dar aquilo que não recebe, precisava cair na real e aprender a valorizar-se, já que ele não fazia mais isso, precisava esquecer dele e pensar em si, viver a sua vida. O fez, ergueu a cabeça e decidiu agir, não podia mais viver se martirizando por alguém que não a merecia, e por pior que fosse para ela, tomou a decisão mais difícil de sua vida, o coração exaurido comprimiu-se de dor, eis que o para sempre estava por um triz, o eterno então, acabou! [...]”
E, depois de sonhar com uma história linda e desejá-la para toda eternidade, decepcionou-se ao ter que viver a realidade, medo, receio, sonhos frustrados, esperanças corrompidas... As lágrimas escorriam pelo rosto manchando a maquiagem e o coração soluçando discerniu o que era necessário. O seu príncipe nunca havia deixado de ser um sapo, "amores-perfeitos só existem em jardins" e a única pessoa que pode fazê-la totalmente feliz, está ali, diante do espelho, juntando os cacos, chorando as mágoas, desenhando um sorriso no rosto, tentando dar a volta por cima.